Amália da Piedade Rebordão Rodrigues nasceu em Lisboa e foi uma das mais marcantes figuras do Fado, distinguindo-se ainda como actriz.
Dotada de uma voz extraordinária, foi considerada a “Rainha do Fado” pelas suas interpretações de temas tradicionais e populares. Mas renovou este género musical com os seus contributos inovadores, cantando poemas de autores portugueses consagrados, de Camões a Ary dos Santos. Entre os seus fados de maior êxito contam-se «Estranha Forma de Vida», «Povo Que Lavas no Rio», «Ai Mouraria», «Barco Negro», «Casa Portuguesa», «Casa da Mariquinhas», «Foi Deus».
Amália teve, a partir dos anos 40, uma carreira internacional brilhante, dando enormes contributos para a difusão da cultura e da língua portuguesas em todo o mundo, de Paris a Tóquio, da União Soviética aos Estados Unidos.
No teatro e cinema Amália Rodrigues foi figura principal na peça «A Severa» (1954) e protagonizou alguns filmes, entre eles, «Capas Negras» (1946), «Amantes do Tejo» (1954), «As Ilhas Encantadas» (1964), «Via Macau» (1965), «Véronique» (1966).
Em 2001 foram-lhe concedidas honras de Panteão relevando o seu impacto na música popular e na promoção internacional da cultura portuguesa.
Reportagem da RTP sobre a trasladação de Amália Rodrigues para o Panteão Nacional: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/trasladacao-de-amalia-para-o-panteao/
Biografia detalhada em: http://www.museudofado.pt/personalidades/detalhes.php?id=262
Alguma da poesia cantada por Amália Rodrigues
Com que voz chorarei meu triste fado
Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura paixão me sepultou,
que mor não seja a dor que me deixou
o tempo o tempo de meu bem desenganado?
Mas chorar não estima neste estado,
aonde suspirar nunca aproveitou;
triste quero viver, poi se mudou
em tristeza a alegria do passado.
Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura prisão me sepultou,
que mor não seja a dor que me deixou
o tempo, de meu bem desenganado?
Mas chorar não se estima neste estado,
onde suspirar nunca aproveitou;
triste quero viver, pois se mudou
em tristeza a alegria do passado.
Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão duro
que lastima ao pé que o sofre e sente!
De tanto mal a causa é amor puro,
devido a quem de mim tenho ausente,
por quem a vida e bens dela aventuro.
Luís de Camões
Barco Negro
De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n’areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.
Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:
São loucas! São loucas!
Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu’estás sempre comigo.
No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.
David Mourão Ferreira
Povo que lavas no rio
Povo que lavas no rio
Que talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão
Povo que lavas no rio
Que talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não
Fui ter à mesa redonda
Beber em malga que esconda
O beijo de mão em mão
Fui ter à mesa redonda
Beber em malga que esconda
O beijo de mão em mão
Era o vinho que me deste
Água pura, fruto agreste
Mas a tua vida não
Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição
Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição
Povo, povo, eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso
Mas a tua vida não
Povo que lavas no rio
Que talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão
Povo que lavas no rio
Que talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não