Abril
Vinhas descendo ao longo das estradas,
Mais leve do que a dança
Como seguindo o sonho que balança
Através das ramagens inspiradas.
E o jardim tremeu,
Pálido de esperança.
Jardim verde e em flor, jardim de buxo
Onde o poente interminável arde
Enquanto bailam lentas as horas da tarde.
Os narcisos ondulam e o repuxo,
Voz onde o silêncio se embala,
Canta, murmura e fala
De paraísos desejados,
Cuja lembrança enche de bailados
A clara solidão das tuas ruas.
Sophia de Mello Breyner Andresen
in Dia do Mar
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)
Sophia de Mello Breyner Andresen, um dos maiores poetas do século XX português, foi a primeira mulher portuguesa a receber, em 1999, o mais importante galardão literário da língua portuguesa: o Prémio Camões.
Sophia de Mello Breyner Andresen, um dos maiores poetas do século XX português, nasceu no Porto a 6 de novembro de 1919. As raízes dinamarquesas remontam ao seu bisavô paterno, que se fixou no Porto Foi na Quinta do Campo Alegre, atual Jardim Botânico do Porto, e na praia da Granja que viveu a sua infância e juventude e onde terá recebido influências decisivas para a sua obra.
Criada na velha aristocracia portuguesa e educada segundo valores tradicionais, frequentou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa. Tornou-se uma das figuras mais representativas de uma atitude política democrática, denunciando o regime salazarista e os seus seguidores. Publicou os primeiros versos em 1940 na revista Cadernos de Poesia, com a qual colaborou.
Entre 1944 e 1997, publicou 14 livros de poesia, nos quais privilegiou temas como a Natureza – com destaque para o mar, a sua beleza e os seus mitos –, a procura da justiça, a civilização grega e a importância da poesia. Dedicou-se igualmente à prosa, escrevendo contos, peças de teatro e histórias para a infância.
Em 1964 recebeu o Grande Prémio de Poesia pela Sociedade Portuguesa de Escritores pelo seu Livro Sexto. Em 1999 foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa: o Prémio Camões. Recebeu ainda o Prémio Max Jacob em 2001 e o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana em 2003, entre outros.
Faleceu, aos 84 anos, no dia 2 de julho de 2004, em Lisboa. Foi trasladada para o Panteão Nacional a 2 de julho de 2014, dez anos após a sua morte.